Voluntariado
Rede de solidariedade vai além da ação do poder público
Diferentes iniciativas auxiliam com abrigo e doações quem teve de deixar sua casa
Foto: Volmer Perez - DP - O grupo, que começa a se chamar Mãos Solidárias, se propôs a reunir, organizar e distribuir as doações
Em contraponto às más notícias surgidas na esteira dos acontecimentos resultantes da tragédia climática que vive o Estado, um forte movimento solidário tem auxiliado no acolhimento dessas pessoas que tiveram de deixar seus lares nas áreas de risco para alagamentos e enchentes. Enquanto uns doam diferentes itens e até dinheiro, têm os que abrigam e outros ainda se tornam o elo entre os que necessitam de ajuda e os que podem ajudar. Em Pelotas, esse trabalho de muitas mãos leva alento e esperança para centenas de pessoas.
No Clube Diamantinos uma ação iniciada por civis é um dos exemplos desse mutirão de solidariedade. O grupo, que começa a se chamar Mãos Solidárias, se propôs a reunir, organizar e distribuir as doações. O trabalho é direcionado para casas e abrigos que não são atendidos diretamente pela Prefeitura.

Todo o salão do Diamantinos está tomado por doações que são sistematicamente separadas e encaminhadas a um determinado setor, como roupas, alimentos, roupas de cama, materiais de higiene e de uso pessoal, como sabonete, escova de dentes, absorvente e fraldas. Para receber o donativo é necessário preencher um formulário formalizando o pedido, que é rapidamente separado e encaminhado a quem o requisitou. “Tem pessoas que não têm como buscar, aí a gente arruma alguém que leve”, comenta uma das organizadoras, a voluntária Fabiane Leite, uma das organizadoras.
Os organizadores contam que reforçam a necessidade das pessoas deixarem as áreas de risco, mesmo assim, eles têm atendido pedidos de pessoas que estão em casa. Com o movimento no local algumas pessoas em situação de rua também têm se aproximado para pedir ajuda. “A gente não vai negar uma ajuda, mas reforçamos que eles procurem a Secretaria de Assistência Social”, comentou Fabiane Schelin, outra organizadora.

Famílias multiplicadas
Na última semana, o grupo auxiliou de alguma forma 32 locais que estão abrigando pessoas que tiveram de sair de casa por causa dos alagamentos, além de famílias que receberam parentes e amigos. “Tem gente que surpreendentemente está abrigando 30 pessoas na sua residência. Estamos procurando atender com maior agilidade, são pessoas que fizeram a sua compra do mês e colocaram dez vezes o número de pessoas que vivem na casa”, fala o voluntário Marco Antônio Alves.
No local os voluntários recebem alimentação (almoço, jantar e lanche), que vem de outros parceiros, o que mostra a força da rede de apoio que se formou. “Aos poucos nós estamos transformando a vontade de ajudar aos outros em uma ideia super legal e somos muito agradecidos ao Diamantinos que abraçou essa ideia”, aponta Fabiane.
A ação não para, é 24 horas do dia em movimento, já que a equipe de voluntários atua somente durante as manhãs e tardes. “Fica uma equipe de organizadores aqui no turno da noite caso alguém precise de alguma coisa”.

Apoio
Com tanta saída de produtos, o grupo está sempre precisando de doações. No momento o grupo precisa de itens para cesta básica, leite sem lactose e achocolatado em pó. Mas esse auxílio não vem só de Pelotas: ontem o grupo recebeu doações de Canguçu.
Outro uso
Um dos locais auxiliados pela Mãos Solidárias com brinquedos foi o abrigo montado na sede de um partido político, na rua General Telles. A ideia surgiu quando o presidente da Associação dos Moradores do Bairro Navegantes procurou a sigla pedindo ajuda. O local está abrigando 42 pessoas, divididas em oito famílias, com 18 crianças. Em dois dos quartos dormem as mães com os filhos, os homens em outro cômodo e os meninos adolescentes em um quarto dormitório. Além do básico, os abrigados são assistidos por médicos e psicólogos. Voluntários organizam as doações e ajudam na recreação das crianças.
Oriundos da Balsa, Navegantes e Mário Meneghetti, os abrigados recebem quatro refeições ao dia, além de auxílio em outras necessidades. Ontem teve bolo para os aniversariantes da semana. Tudo oriundo de doações.
Vida que segue
A dona de casa Rosângela Goulart Nunes, 53, está no abrigo com os três filhos e os netos, o mais novo com um ano e o mais velho com 15 anos. A moradora do bairro Navegantes II saiu de casa há uma semana, mas confessa que foi contra a própria vontade. “Eu não queria vir, porque eu tenho bichos, gato, cachorros. Por mim voltava hoje mesmo”, falou ao lembrar que ontem a água, próximo a sua residência havia baixado.
Dois dos cães da família estão em um canil na Guabiroba e já foram visitados por Rosângela. “Me deu uma dor no coração”, lembra. Para o abrigo ela levou a gatinha com filhotes. O bom é que dois deles encontraram novos lares.
Apesar do momento de tensão, os Nunes tentam tocar a vida como dá. Uma das filhas de Rosângela trabalha como auxiliar de cozinha e sai do abrigo diariamente para manter suas atividades. O filho da dona de casa, que é autônomo, também segue trabalhando. “É conta para pagar, é aluguel, os boletos continuam chegando”, diz.
Rosângela que é diabética e hipertensa foi atendida pelo médico voluntário que vai ao abrigo, o que a deixou mais calma. “Aqui o pessoal é maravilhoso. Mas não é fácil estar fora da casa da gente. Mas não tem o que fazer, né?”
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